UMA EXPERIÊNCIA TRANSFORMADORA COM A KATERRE

05 de dezembro de 2013

Caminho junto ao Teatro Amazonas em Manaus e me sinto zonza, mareada. Talvez sejam as milhares luzes de Natal que já tomam conta da praça principal, ou quem sabe as ondas das calçadas que inspiraram as de Copacabana, no Rio.

Ou talvez seja porque acabo de passar 8 dias num barco, navegando pelo Rio Negro com a Katerre Expedições.

Nossa viagem nos levou de Novo Airão, a 180 km de Manaus, até a reserva do Xixuaú, na fronteira com o território indígena dos Waimiri-Atroari, no Rio Jauaperi, já no estado de Roraima.

Sem dúvida uma experiência incrível, com um grupo de pessoas maravilhosas, todos idealistas a sua maneira.

Faz quatro dias que estou de volta, e a vertigem continua. Fecho os olhos, respiro fundo e caio em mim. O que eu sinto é o universo. Amor e gratidão imensos. Meu coração está aberto e ainda absorve tudo o que eu vivi nos últimos dias.

Uma experiência transformadora, nada menos.

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As lembranças daquele primeiro dia a bordo do Jacaré-Açu, nossa embarcação em estilo regional, seguem vivas na memória. O barco é lindo, todo feito em madeira de lei, amplo e confortável. Ele desliza suavemente pelas águas escuras do Rio Negro, incorporando-se à paisagem e acolhendo a todos de imediato.

A primeira coisa que se nota nesse canto do mundo é a imensidão, a abundância.

O rio Negro é o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas e o mais extenso rio de águas negras do mundo. Nasce na Colômbia, onde é conhecido como Guainía, corre ao longo da fronteira da Colômbia e Venezuela, antes de entrar no Brasil. Após passar por Manaus, une-se ao rio Solimões, no famoso encontro das águas e, a partir daí, este último passa a chamar-se rio Amazonas.
A cor escura de suas águas se deve à presença do ácido húmico gerado no processo de decomposição de sedimentos orgânicos o que, explica nosso guia, também significa poucos mosquitos – oba!

Cercados pelo magnífico arquipélago de Anavilhanas, o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, partimos Amazônia adentro em direção ao nosso primeiro pôr do sol. Estamos na estação da seca e o Jacaré-Açu ancora junto a uma série de bancos de areia. Simplesmente extraordinário.

Aquela primeira noite dormimos em redes no Mirante do Madadá e o nascer do sol nos desperta suavemente. Com que freqüência fazemos isso em nossas vidas?

sunrise_madada

A comida é genuína e deliciosa. Tapioca, tucumã, tucunaré, tambaqui, cupuaçu e tantos outros sabores locais deliciosos de nome igualmente maravilhosos… Tudo preparado e servido pelas mais doces e atenciosas moças.

Próxima parada: uma trilha às Grutas do Madadá, uma formação rochosa de mais de 700 milhões de ano. No caminho, plantas exóticas, formigas de fogo, aranha escorpião, orquídeas escondidas, e um cheiro forte do que depois fico sabendo seria o rastro de uma onça…

Detalhes incríveis que certamente passariam despercebidos não fosse nosso guia e parceiro, Noé, um grande contador de histórias que nos guia pela floresta, compartilhando seus conhecimentos com entusiasmo.

Noé aponta a “árvore telefone” e suas enormes raízes expostas e ensina como os habitantes da floresta a usam para se comunicarem. Ele golpeia a árvore e o som se propaga pela floresta.

Penso nas minhas filhas e no quanto elas iriam adorar as histórias do Noé e toda a aventura.

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Neste complexo, mas harmonioso ecossistema, não temos opção senão viver no momento presente. As coisas simplesmente são. E, ainda que sem querer, passamos a simplesmente ser nós mesmos também. E que sensação poderosa.

Os dias que se seguem reservam aventuras igualmente emocionantes: uma fogueira na praia, uma pequena trilha a Samaúma, a maior árvore da floresta amazônica, cachoeiras e corredeiras que purificam a minha alma no Parque Nacional de Jaú, focagem noturna de jacarés e arraias…

E quando penso que nada poderia ser melhor, passamos a conhecer melhor o maravilhoso povo ribeirinho das comunidades que visitamos no trajeto.

Moura, Itaquera, Xixuaú, São Pedro, Gaspar. 
Tão longe de nossa realidade, e ao mesmo tempo tão próximos e conectados pelas mesmas necessidades e sentimentos humanos.

Composta em sua maioria por membros da indústria do turismo, um ambientalista e uma educadora, nossa expedição é única. Por isso, dedicamos mais tempo conversando com os ribeirinhos e conhecendo um pouco mais sobre os projetos da Katerre na região.

Cada comunidade tem uma história a contar. E nós estamos ansiosos para ouvi-las.

vivamazonia

Moura surpreende com um moderno sistema de educação à distância e gigantes monitores de tela plana em cada sala de aula.

Em Itaquera visitamos a Associação dos Artesãos do rio Jauaperi. Seus trabalhos são preciosos. O talento desses artesãos é evidente, assim como suas dificuldades de distribuição e de gestão financeira e comercial.

Xixuaú, um paraíso ecológico na terra, nos impressiona com seus esforços para criar uma comunidade de eco turismo sustentável.

As meigas jovens de São Pedro nos inspiram com seus sonhos e esperança de uma educação e futuro melhores.

No Gaspar, somos calorosamente recebidos por Paul e Bianca, um casal incrível que imigrou da Europa em 1994 para trabalhar com turismo, quando uma proposta inusitada mudou tudo: um ribeirinho pediu que Paul alfabetizasse seus filhos. E assim nasceu a VivAmazônia, uma escola para crianças de 5 a 10 anos.

Impossível descrever a magnitude de uma viagem como esta e o perfeito equilíbrio entre natureza, aventura e auto-conhecimento que ela representa.

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Recordo os tranqüilos amanheceres e magníficos entardeceres, as inúmeras estrelas que iluminam nosso caminho enquanto navegamos a nosso destino com equilíbrio e fluidez;

Sinto uma gratidão imensa pela tripulação e os novos e maravilhosos amigos que fiz a bordo;

Penso nos meus guias-mirim em Moura: Guilherme (8), Bruno (7) e Cali (6), e sua alegria ao mostrar sua escola e contar sobre seus projetos para a primeira feira de ciências que haviam realizado;

Sinto o abraço apertado de Yasmin (5) ao nos despedirmos de Itaquera;

Sinto a mesma paz que senti naquela canoa no rio Jauaperi, na reserva do Xixuaú. Um pôr do sol tranqüilo e perfeito, ouvindo o canto dos tucanos, observando os irreverentes macacos. Uma bela recordação de que a vida pode sim ser bela e simples;

Meu coração transborda com o amor, a alegria e a inspiração que recebi dos treze alunos da VivAmazônia, que criaram e representaram um lindo espetáculo, conquistando-nos com seus sorrisos e entusiasmo;

Minha alma está repleta do mesmo propósito, compaixão e determinação de Paul e Bianca, que há 20 anos seguiram seus corações e agora representam um pontinho de luz e esperança nesse canto remoto do mundo.

Momentos de puro amor, compreensão e encantamento.

Estou contando os dias para dividir essa experiência mágica com a minha família. E com a sua também.

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Patricia Zacharias Monahan
– Diretora da Our Whole Village

Crédito: Our Whole Village

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